A era de ouro das corridas de carros de turismo ocupa um lugar especial na história do desporto motorizado. Desde o final dos anos 80 até o início dos anos 2000, este período produziu algumas das batalhas mais intensas, carros inesquecíveis e pilotos carismáticos que cativaram fãs por toda a Europa e além. Este artigo revisita essa fase gloriosa, destacando corridas icónicas, equipas lendárias e figuras que moldaram o legado dos carros de turismo.
No final dos anos 80, os campeonatos de carros de turismo tinham-se tornado séries altamente competitivas e bem-sucedidas comercialmente. O Campeonato Britânico de Carros de Turismo (BTCC), o Deutsche Tourenwagen Meisterschaft (DTM) e o Superturismo Italiano juntaram equipas oficiais e privadas, atraindo grandes multidões e patrocínios importantes.
Um ponto de viragem ocorreu em 1992, quando o BTCC introduziu a fórmula ‘Super Touring’. Este novo regulamento equilibrou o nível da competição e resultou em corridas cerradas e emocionantes, ideais para televisão. Fabricantes como BMW, Ford, Vauxhall e Volvo investiram fortemente nestes campeonatos, criando uma das grelhas mais competitivas da história.
Enquanto isso, o DTM ganhou notoriedade pela sua inovação técnica e potência. Ao contrário dos carros mais padronizados do BTCC, os veículos do DTM tornaram-se máquinas de alto desempenho nos anos 90, muitas vezes comparados aos carros de GT. Esta diferença na filosofia técnica ofereceu aos fãs experiências variadas no panorama europeu.
Os anos 90 produziram alguns dos carros de turismo mais lendários de sempre. O Alfa Romeo 155 V6 TI, por exemplo, dominou a temporada de 1993 no DTM com o seu motor potente e aerodinâmica avançada. Os Mercedes-Benz 190E e, mais tarde, os modelos C-Class também marcaram presença com potência e fiabilidade.
No BTCC, a Volvo causou impacto com o seu 850 Estate em 1994 – uma jogada ousada que, mesmo não sendo totalmente bem-sucedida em pista, tornou-se icónica. Os modelos Laguna da Renault, Accord da Honda e Primera da Nissan tornaram-se nomes familiares graças às suas vitórias e designs marcantes.
A inovação ia além da performance. As equipas investiram em telemetria, aerodinâmica e configurações de chassis para ganhar preciosos décimos de segundo. Esta era lançou as bases para muitas tecnologias mais tarde usadas noutros segmentos do desporto automóvel.
Não existe era dourada sem personalidades maiores que a vida – e as corridas de turismo não faltaram a essa regra. Pilotos como Alain Menu, John Cleland, Frank Biela e Roberto Ravaglia não só competiram por vitórias como criaram rivalidades e momentos dramáticos que ainda hoje fazem história.
A disputa pelo título do BTCC em 1992 entre Cleland e Tim Harvey é muitas vezes citada como uma das melhores da modalidade. O seu confronto controverso em Silverstone está gravado na memória de todos os fãs. Já a dominância de Menu em 1997 com a Renault foi um exemplo de excelência pura, tanto do piloto quanto da equipa.
Na Alemanha, Bernd Schneider tornou-se sinónimo de domínio no DTM. Os seus cinco títulos com a Mercedes-Benz tornaram-no um herói nacional e cimentaram o prestígio da competição moderna. Estes nomes foram mais que rápidos ao volante – foram figuras centrais em histórias envolventes, prova após prova.
O sucesso dos carros de turismo não se deu apenas em pista, mas também na televisão. As transmissões televisivas de alta qualidade, sobretudo no Reino Unido, tornaram o BTCC um ritual de domingo. Canais como a BBC e ITV mostraram corridas ao vivo, entrevistas e análises técnicas a milhões.
Os fabricantes viam os campeonatos como campos de batalha de marketing. As pinturas dos carros tornaram-se imagens icónicas, e o sucesso em pista traduzia-se diretamente em vendas. Esta ligação transformou carros do quotidiano em símbolos de velocidade e engenharia.
O envolvimento dos fãs atingiu níveis históricos nos anos 90. Paddocks abertos, clubes de fãs e eventos com pilotos aproximaram o público das equipas. As corridas de turismo eram mais do que um desporto – eram uma comunidade.
Com o início dos anos 2000, os custos para manter equipas competitivas dispararam. Os fabricantes começaram a abandonar os campeonatos, que mudaram de formato ou terminaram. O DTM foi completamente reestruturado em 2000, e o BTCC reviu os regulamentos para reduzir custos e equilibrar a competição.
Apesar destes desafios, o impacto da era dourada permanece. Muitos engenheiros e pilotos dessa fase ascenderam a papéis de destaque na Fórmula 1, resistência e desenvolvimento automóvel. O ADN das corridas de turismo ainda está presente em competições atuais em todo o mundo.
Hoje, os fãs lembram com carinho e orgulho esse período especial. Eventos como o Goodwood Revival e o Classic Touring Car Racing Club mantêm o espírito vivo, enquanto documentários e arquivos atraem novas gerações ao passado glorioso.
A era dourada das corridas de turismo foi definida pelo acesso fácil, competição crua e orgulho nacional. Foi uma época em que carros normais de estrada se tornaram ícones de corrida, e pilotos locais viraram heróis.
Essa fase moldou a cultura do desporto motorizado na Europa, provando que o espetáculo e a emoção não eram exclusivos da Fórmula 1. Com o equilíbrio entre entretenimento, inovação e autenticidade, esta era continua a inspirar o desporto até hoje.
Embora possa nunca regressar no mesmo formato, o seu legado vive nos corações dos fãs e nas páginas da história do automobilismo. O fumo dos pneus dissipou-se, mas as histórias continuam vivas.